sexta-feira, 13 de agosto de 2010

de mau jeito no caminho

Sei que não fazia muito sentido andar com as partes do corpo se despedaçando por aí.
Já começou há muito tempo: se eu parava pra esperar o ônibus, lá ficava, pra torrar no sol, um bife da perna. Se apoiava no caixa do banco, lá se ia uma pele do tronco.
Não causava muita dor, nem mesmo a noção da falta que os pedaços me fazia. Mas sei que em algum momento começaram a pensar coisas como 'lá vai a garota mal-educada, aquela que nem pra cumprimentar direito pára' ou 'não sei onde andará seu sorriso, deve ser um tanto menos de coração'.
E pra explicar que nem parar direito eu poderia? Pois flutuava sem apoio, sem mais nem pé pra apoiar-corpo. Sem ter jeito pra estender a mão ou abrir o tal sorriso de coração.
E pra explicar que, se tem uns que se machucam por dentro sofrem choram apertam o peito, no meu caso os sentimentos ficavam guardados na carne?

e que a própria carne caiu de mim,
talvez por proteção,
talvez pra libertar-me?

Sentido mesmo não faz. E nem dá muito pra explicar.

Então só me desculpo sinceramente

- e na próxima em que nos virmos
tento te contar pelo olhar, o que meu corpo não disse.

4 comentários:

Liene Saddi disse...

no limite!! que bom que deu pra postar a tempo :))

André Turtelli Poles disse...

Incrível. :)

Ainda bem que deu tempo. =D
Com tanta pouca palavra conseguiu trazer tanta coisa, assim rapidinho, pra ler meio que sem parar, como se só de olhar já desse pra saber. :)

Adorei mesmo! =)

Quirino disse...

Muito muito legal mesmo!!
Compacto, e expressivo! Quase um poema!
E de se pensar porque as caveiras são tão antipáticas! heheheh

Rafito! disse...

Quase um poema mesmo! =]
Realmente MUITO bonito o modo como vc usou as palavras no texto. O texto foi levado de um ritmo como se fosse no ritmo da alma, equanto falava de carne =]
Foi uma junção de alma e carne, meio que dois antônimos, ou pelo menos assim são implicitamente rotulados, né =)
E digo que fiquei pensando muito na analogia entre deixar um pouco de si em cada lugar que se passa, em cada atividade que se faz, de uma forma mais espiritual/emocional/social. Não sei se é viagem demais, ou querer achar muito chifre em cabeça de cavalo né hueheuhehuhe
E no sentido literal ficou muito bom! Um problema inimaginável, as pessoas julgando sem saber disso, a personagem sem saber o que fazer para mudar isso, mesmo porque não tem como. E o olhar, que tanto diz, foi o que restou à personagem, ao meu ver, mostrando a riqueza dessa coisa tão simples. =)