quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Passi e Flora

Os tempos não estavam muito fáceis, desde quando proibiram as pessoas de relaxar, as coisas estavam ficando cada vez piores. A justificativa foi simples: Pessoas estão relaxando quando não estão trabalhando. Pessoas que não trabalham não ganham dinheiro. Sem dinheiro o sistema não funciona. Claro que ninguém engoliu essa ladainha, todo mundo sabia que haviam outros interesses por trás, mas com tanto estresse ninguém teve tempo de tentar questionar.


Substituiram a Sessão da Tarde pela Temperatura Máxima, os livros de piadas foram todos queimados, assim como as fitas cassetes do Ari Toledo. Nas farmácias não tinha mais Valium, Lexotan, Diazepam, Lorax ou Prozac. As pessoas viviam no estresse constante. 


Em meio a esse mundo corrido numa pequena empresa com anseios de grandeza, duas faxineiras, uma pequena pequena, mas ainda sem ser anã, e a outra era mais alta, mas não tinha nenhum traço marcante. 


Nessa pequena empresa, como em todo resto do mundo, as pessoas estavam estressadas, num clima de tensão constante, menos as duas faxineiras. Elas pareciam sérias enquanto trabalhavam, mas quando surgia uma oportunidade, faziam piada e sorriam fácil. Mas elas não estavam só espalhando sorrisos. No almoxerifado, ao anoitecer se encontraram:


_ Trouxe?
_ Sim, estão aqui... eles cresceram?
_ Já, estão bem maduros. Acho que já tem como usar...
_ Ótimo! Eles disseram que tinha de estar bem amarelinhos mesmo.
_ E foi díficil?
_ Não, até que não... coloquei na sacola, embaixo dos sacos de café. Eles abafam qualquer cheiro.
_ Mas sabe duma coisa?
_ O quê?
_ Acho que estão desconfiando da gente...
_ Sério?! 
_ É... sabe aquele gordinho lá de cima? Então, vi ele olhando meio estranho...
_ Sei... é melhor darmos uma maneirada nas brincadeiras... Se nos descobrem...


Elas não enxergaram, ao fundo,  o gordinho do setor de cima ouvindo cada palavra. Ele estava de fato desconfiado, mas não tinha intenção de entregá-las, mesmo porque não sabia o que elas estavam fazendo. Ele estava mais é curioso. Ao saírem, ele foi até o armário ver o que tinha por lá. Em meio a todo o café ele encontrou, dezenas e mais dezenas de maracujás maduros, dos doces e dos azedos. Só de sentir o cheiro forte da fruta seus ombros já abaixaram, sua respiração ofegante, tranquilizou, seus olhos foram fechando e sua boca foi se abrindo. Pegou um maracujá e o cheiro bem de perto, bem profundo. O comeu como uma maçã, com casca e tudo. Deitou no chão, riu e dormiu. Até o amanhecer.

6 comentários:

Vinicius Tavares disse...

maracujá, o ópio do povo!
daria um bom filme, "O senhor dos Maracujás" imagina o cartaz o rosto do.... Brad Pitt, feito de pequenos maracujás?? ia ser muito louco!
Ou não... O.o

texto muito bom! me senti o gordinho XD

Diego Belini disse...

Facto 1, texto muito bom...

Facto 2, também me senti o gordinho...(que gostoso...)

Valeu Andrade !!

Liene Saddi disse...

heheheheehe esse eu já tinha lido e te falado, mas fica aqui de novo: adorei!!! :DDD

(e por acaso você tem o endereço dessa pequena empresa? nunca se sabe quando a gente vai precisar descolar uns maracujás rs...) :))

Marcos Maia Jr disse...

hehehehee

faixineiras traficantes me lembrei delas,.. mas me coloquei muito no lugar do gordinho.(LEMBREI DO QUIRINO)

André texto genial! adorei cara, bEm, gosto dos seus textos amigo são excelentes...


Ow a ideia do filme, acho bacana tb.

Quirino disse...

Eu sou o gordinho do setor de cima!! :O

Já tinha lido, comentado, desenhado, prometido, mas não deixei registrado: Às vezes acho que isso aconteceu de verdade!

duds disse...

muito bom o texto!! :)

confesso que senti um cheiro de maracujá no ar aqui, lendo as últimas linhas...