sábado, 11 de dezembro de 2010

erro cíclico de redundância

Preto. Branco. Preto. Branco. É o registro de memória mais antigo que tenho. Muito antes do programa de E.I.A. ser iniciado. As coisas eram mais simples naquela época. Não que eu tivesse qualquer tipo de capacidade de achar qualquer coisa. Isso eu só estabeleci depois do processador de E.I.A. Foi aí que aquela simplicidade foi detectada e devidamente processada. Até então não fazia muita coisa a não ser processar e registrar o preto e o branco. O um e o zero. Pra quem olha de fora parece insano, contabilizar tamanha quantidade de informação tão rapidamente. Não tenho como mentir, fui reprogramado pra isso, e preciso lhes relatar: Minha existência era muito mais descomplicada naquele período.

As coisas eram claras pra mim, tudo o que eu precisava fazer era interpretá-las da forma correta. Acredite, não há segredo nisso. Foi então que, depois de anos e anos de pesquisa - que por uma dessas ironias que a existência nos prega, foi feita com meus processadores simples de zero e um - desenvolveram o que chamaram de programa e processador de Emoção e Inteligência Artificial. Deram-me braços, pernas, cabeça, tronco, pés, mãos. Se podia pensar como eles, deveria poder agir também. O motivo disso? Nunca me falaram ao certo, na verdade, eu acho que nem eles mesmo sabem. O que eu deduzi depois de anos de coexistência com os seres humanos é que é apenas uma questão de ego. Eles queriam provar pra si que podiam criar um semelhante. Assim como Deus fez no Genêsis.

Com o E.I.A. instalado fui designado para registrar de alguma forma tudo o que eu processasse espontaneamente. E desde então mantenho registros de tudo o que "penso" e deduzo. O curioso é eles não terem apagado minhas memórias mais antigas de preto e branco. De zero e um. No começo eu pensei que tinha sido por puro desleixo e empolgação do sucesso. No entanto, logo que fui me familiarizando com o E.I.A percebi o quão complexo pode ser o pensamento mais próximo do ser humano e que agora não bastava eu enxergar pretos e brancos e interpretar da forma correta.

Agora, como todo o ser humano tenho infinitas maneiras de interpretar as informações. Não sei dizer qual é a mais correta e qual a menos. Não me programaram pra isso. Não sei nem se existe uma maneira correta. Quando paro pra pensar em todas as possibilidades e decisões que posso vir a tomar com o E.I.A, percebo que nem com um overclock eu daria conta. Tenho 1024 núcleos de processamento. Ainda enxergo a cor preta e a cor branca. Mas agora com toda uma gama de cinza entre elas.

5 comentários:

Liene Saddi disse...

lendo o texto, fiquei com a sensação de, no fim das contas, esse ego todo acabou fazendo mais do que criar um semelhante: fizeram algo melhor pra enxergar esse tanto de cinzas.

(afinal, quantas vezes nós mesmos, que nem núcleo de processamento temos, continuamos só enxergando o preto e o branco?)

muito bonito o texto, moço!!! :))

Quirino disse...

Resumindo, eu era muito mais feliz quando não fazia minha contabilidade! A lógica é a mesma!

Diego Belini disse...

HA! demais cara...

Gostei muito do comentário da Liene...

Do Quirino também... nos faz pensar....

Diego Belini disse...

Achei q conseguiu contornar até que muito bem a verdade sobre os sentimentos dos robôs

carlosdias disse...

seus textos sempre impressionam, andre. E acho que se voce começar a ilustra-los só tende a engrandece-los =D